A dengue está se espalhando rapidamente devido às mudanças climáticas e à globalização, com um número crescente de casos em países europeus antes não afetados. Ainda assim, não existe um tratamento específico para a doença.
A Autoridade de Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias da Comissão Europeia (DG HERA) anunciou que investirá 20 milhões de euros, a serem executados pela agência francesa de desenvolvimento Agence Française de Développement (AFD), para avançar no desenvolvimento de pelo menos dois novos medicamentos para tratar dengue, uma doença em rápida expansão. O projeto será implementado pela organização de pesquisa sem fins lucrativos Drugs for Neglected Diseases initiative (DNDi).
A dengue representa uma ameaça significativa à saúde humana, com 3,9 bilhões de pessoas em risco. Os casos dobram a cada ano desde 2021, impulsionados pelas mudanças climáticas e pela globalização. Apesar do crescente impacto da doença, inclusive na Europa, ainda não existe um antiviral específico para tratar os pacientes.
O projeto financiado pela DG HERA inclui a condução de dois ensaios clínicos de fase avançada em países com alta carga de doença para testar a eficácia de pelo menos dois candidatos a medicamentos promissores. Essas moléculas têm potencial para se tornarem tratamentos eficazes, acessíveis e globalmente disponíveis, capazes de reduzir a gravidade da infecção e ajudar a diminuir sua transmissão.
“A dengue afeta cerca de 390 milhões de pessoas por ano e exerce imensa pressão sobre os sistemas de saúde dos países endêmicos. O aumento das temperaturas e a contínua degradação dos ecossistemas contribuíram para o crescimento da transmissão local dentro da Europa. Por isso, a DG HERA identificou as doenças transmitidas por vetores como uma das principais ameaças para as quais devemos nos preparar. Este projeto, financiado pelo programa EU4Health 2025, atende diretamente ao nosso objetivo de fortalecer a preparação para futuras emergências sanitárias — não apenas na Europa, mas em todo o mundo”, afirmou Florika Fink-Hooijer, diretora-geral da DG HERA.
Na ausência de tratamentos específicos, os esforços atuais para controlar a dengue se concentram principalmente na redução da transmissão pelos mosquitos Aedes e no uso de vacinas desenvolvidas nos últimos anos. No entanto, a cobertura vacinal permanece baixa, e sua eficácia varia conforme o estado imunológico prévio e o sorotipo do vírus; por isso, tratamentos precisam ser adicionados ao conjunto de ferramentas de saúde necessárias para enfrentar a doença.
Atualmente, pacientes com dengue grave recebem principalmente cuidados intensivos de suporte em hospitais. Durante surtos, as unidades hospitalares podem rapidamente ficar sobrecarregadas pelo aumento no número de casos. Tratamentos capazes de reduzir a gravidade da doença seriam, portanto, essenciais para aliviar a pressão sobre os sistemas de saúde e salvar vidas — especialmente entre grupos particularmente vulneráveis, como gestantes, crianças, idosos e pessoas com comorbidades.
“Medicamentos para dengue são urgentemente necessários, e a AFD está comprometida em desempenhar um papel central na mobilização da ciência e de parcerias para entregar tratamentos eficazes e acessíveis que beneficiem a todos, especialmente em países com infraestruturas de saúde fragilizadas. Este projeto de P&D apoiado pela DG HERA está totalmente alinhado com a Estratégia de Saúde Global da França (2023–2027), que prioriza o combate às doenças tropicais negligenciadas. A AFD utilizará toda sua expertise e ampla experiência em programas de saúde para finalmente proporcionar à humanidade os medicamentos contra dengue de que necessita”, afirmou Agnès Soucat, diretora da Divisão de Saúde e Proteção Social da AFD.
“A França está lado a lado com a União Europeia, com a AFD e com sua parceira técnica DNDi para impulsionar o desenvolvimento de tratamentos urgentemente necessários para a dengue grave — enfrentando uma emergência sanitária que não é apenas europeia, mas global”, disse Anne-Claire Amprou, embaixadora Francesa para a Saúde Global. A questão urgente de como monitorar e controlar doenças sensíveis ao clima, como a dengue, será um dos temas de destaque na próxima One Health Summit, que será sediada pela França em Lyon, no Dia Mundial da Saúde, em 7 de abril de 2026.
Apesar de sua crescente carga, o desenvolvimento de medicamentos contra dengue é dificultado pelos altos custos de pesquisa e pelo investimento insuficiente do setor privado. Como a doença afeta principalmente países de baixa e média renda, os incentivos comerciais são limitados.
A DNDi, junto com parceiros da Aliança Dengue, aportará sua expertise técnica e longa experiência na condução de ensaios clínicos e no desenvolvimento de medicamentos inovadores, seguros e acessíveis. A organização sem fins lucrativos já entregou treze novos tratamentos para seis doenças negligenciadas e incluiu dengue em seu portfólio em 2022.
Além da condução de pelo menos dois ensaios clínicos, o projeto financiado pela DG HERA inclui o mapeamento e o estabelecimento de parcerias industriais para apoiar o desenvolvimento e o acesso aos potenciais novos tratamentos. Também apoiará a criação de uma rede de centros clínicos e autoridades de saúde que integram a Aliança Dengue, uma parceria global de instituições de pesquisa de países afetados pela dengue, incluindo Brasil, Índia, Tailândia e Malásia. Esses quatro países sediarão os ensaios clínicos necessários para testar os possíveis medicamentos.
“A dengue é uma das ameaças mais sérias à saúde humana em todo o mundo, e recebemos com grande satisfação este investimento significativo da União Europeia para apoiar a ciência e levar tratamentos tão necessários aos pacientes”, disse Dr. Luis Pizarro, diretor-executivo da DNDi. “É um investimento em um futuro mais saudável e mais resiliente para milhões de pessoas — para comunidades fortemente afetadas pela dengue hoje e para aquelas que serão afetadas nos próximos anos.”
Resultados iniciais de estudos epidemiológicos conduzidos pela DNDi e parceiros mostram que a dengue também é prevalente em muitas regiões da África, onde se acreditava que sua carga fosse baixa.
Os arranjos contratuais para o projeto financiado pela DG HERA serão finalizados nos próximos dias, com a implementação prevista para começar em novembro de 2025.
Sobre a DNDi
A Drugs for Neglected Diseases initiative (DNDi) é uma organização de pesquisa médica sem fins lucrativos que descobre, desenvolve e entrega tratamentos seguros, eficazes e acessíveis para populações negligenciadas. A DNDi desenvolve medicamentos para doença do sono, leishmaniose, doença de Chagas, oncocercose, filariose linfática, esquistossomose genital feminina, micetoma, dengue, HIV pediátrico, meningite criptocócica e hepatite C. Suas prioridades incluem saúde infantil; equidade de gênero e P&D sensível a gênero; e doenças impactadas pelas mudanças climáticas. Desde sua criação em 2003, a DNDi colaborou com parceiros públicos e privados no mundo todo para entregar treze novos tratamentos para seis doenças mortais, salvando milhões de vidas. dndi.org
Sobre o Grupo AFD
O Grupo AFD financia e impulsiona a transição para um mundo mais justo, seguro e resiliente, trabalhando com parceiros para apoiar comunidades em todo o mundo. Com base nas competências complementares de suas entidades — a Agence Française de Développement para financiamento público, a Proparco para investimento privado responsável e a Expertise France para cooperação técnica — o Grupo está idealmente posicionado para enfrentar todos os desafios do desenvolvimento sustentável.
Atuando em mais de 160 países, incluindo territórios ultramarinos franceses, o Grupo adapta suas operações às realidades locais, apoiando ativamente iniciativas locais. Com mais de 4.000 projetos alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o Grupo AFD trabalha em nome do povo francês, ao lado de todos os atores comprometidos com o desenvolvimento econômico e a preservação dos bens comuns: clima, biodiversidade, paz, igualdade de gênero e saúde global.
Sobre a DG HERA
A Autoridade de Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias (DG HERA) é uma Direção-Geral da Comissão Europeia. Sua missão é garantir o desenvolvimento, produção, aquisição e distribuição equitativa de contramedidas médicas essenciais para prevenir ou responder rapidamente a emergências sanitárias transfronteiriças. Também é responsável pela dimensão industrial da segurança do fornecimento de medicamentos essenciais na UE.
A DG HERA trabalha para reforçar a coordenação da segurança sanitária na União durante períodos de preparação e resposta a crises, enfrentar vulnerabilidades e dependências estratégicas relacionadas à produção, aquisição, armazenamento e distribuição de contramedidas médicas, e fortalecer a arquitetura global de preparação e resposta a emergências sanitárias.
Para alcançar esses objetivos, a DG HERA trabalha em estreita colaboração com Estados-Membros, sociedade civil, setor industrial, países terceiros e parceiros globais.
Sobre o EU4Health
O programa EU4Health foi adotado em resposta à pandemia de COVID-19 para reforçar a preparação para crises sanitárias na UE. Ele contribui para enfrentar desafios de saúde de longo prazo, desenvolvendo sistemas de saúde mais fortes, resilientes e acessíveis. O programa teve um orçamento inicial de 5,3 bilhões de euros para o período 2021–2027, reduzido para 4,4 bilhões após a revisão do Quadro Financeiro Plurianual, e representa um apoio financeiro sem precedentes na área da saúde na União Europeia.