Resolução sobre a doença de Chagas na OMS

Assembléia Mundial de Saúde: MSF e DNDi apelam aos Estados Membros da Organização Mundial de Saúde para que incluam o acesso a diagnóstico e tratamento na resolução sobre a doença de Chagas

[Genebra, 17 de Maio de 2010 ]

Na Assembléia Mundial de Saúde (17-22 de Maio) em Genebra, a resolução ‘Doença de Chagas: Controle e Eliminação’ está para ser adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Embora seja um passo na direção certa, a resolução carece de elementos essenciais. Médicos Sem Fronteiras (MSF) e a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) pedem aos Estados Membros da OMS que incluam na resolução a necessidade de implementação do tratamento e diagnóstico nos níveis primários de saúde e reforcem as ações de pesquisa e desenvolvimento.

“Após mais de 10 anos de experiência tratando pacientes com a doença de Chagas, MSF já tratou com sucesso milhares de pessoas. Gostaríamos que a importância que é dada à prevenção fosse igualmente dispensada às estratégias de tratamento e diagnóstico,” diz Fran Román, Vice-Presidente de MSF. “Os países endêmicos devem concordar em incluir as ações de tratamento e diagnóstico nos níveis primários de saúde, se quiserem atingir todos os pacientes, crianças e adultos, tanto nas fases aguda quanto na crônica da doença”, acrescenta.

A intenção da resolução é controlar e eliminar a doença de Chagas, sem incluir diagnóstico e tratamento para os pacientes infectados, nem a necessidade de mais pesquisa e desenvolvimento para novas ferramentas. A resolução não faz afirmação clara no sentido de atender às necessidades dos pacientes e à falta de acesso a medicamentos e exames para o diagnóstico.

“Os pacientes da doença de Chagas foram esquecidos por que são pobres e estão à margem dos interesses de mercado, mas a ciência existe para desenvolver melhores tratamentos e ferramentas de diagnóstico para todos”, diz Bernard Pecoul, Diretor Executivo da DNDi. “Os primeiros passos para progredirmos em nível internacional são por meio de financiamentos sustentáveis, e forte apóio do setor público. Os delegados da Assembléia Mundial de Saúde têm agora a oportunidade de avançar e adotar medidas concretas necessárias”, disse Pecoul.

Esta é uma oportunidade para milhões de pessoas infectadas pela doença de Chagas que permanece sendo a doença parasitária que mais mata no continente americano. Cerca de 10-15 milhões de pessoas estão infectadas e 14 mil morrem todos os anos.

Em 2009, os Estados Membros da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) adotaram a resolução ‘Eliminação das doenças negligenciadas e outras infecções relacionadas à pobreza’. O documento sugere a inclusão nos níveis primários de saúde do tratamento etiológico de crianças e adultos e a oferta de outros cuidados para adultos, uma vez que os tratamentos etiológicos para a doença de Chagas possuem eficácia limitada. Esta estratégia está alinhada às mensagens de MSF e DNDi.

Medidas precisam ser adotadas urgentemente para aumentar a oferta de diagnóstico e tratamento e melhorar o acesso a cuidados de saúde aos pacientes infectados, e para incrementar as atividades de pesquisa e desenvolvimento para novas ferramentas. MSF e DNDi também apelam aos Estados Membros para que reforcem a cadeia de suprimento dos tratamentos existentes, disponibilizando-os aos profissionais de saúde e aos programas nacionais, e promovam urgentemente a pesquisa e o desenvolvimento (P&D) que é praticamente inexistente no momento. A P&D se faz necessária para que se obtenha melhores tratamentos (menos tóxicos, de curta duração, e eficazes em todas as fases da doença para crianças e adultos), ferramentas para o diagnóstico adaptadas às limitações do trabalho em regiões carentes, e um teste de cura para o controle da doença.

Para ler a Resolução EB124.R7, acesse: http://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/EB124/B124_R7-en.pdf

 

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Sobre a doença de Chagas

A doença de Chagas é transmitida principalmente pelo inseto conhecido como barbeiro. A doença é endêmica em 21 países da América Latina e do caribe, com cerca de 14.000 mortes por ano. A doença de Chagas mata mais pessoas na região do que qualquer outra doença parasitária, incluindo a malária. Em sua maioria, são pessoas pobres que vivem em áreas rurais ou que migraram para os subúrbios de grandes centros urbanos, constituindo assim um mercado pouco atrativo para a indústria farmacêutica privada. Sem diagnóstico e tratamento adequados, um em cada três pacientes com doença de Chagas irá desenvolver a forma fatal da doença com o crescimento do coração. Com frequência, pacientes precisam de marcapassos, desfibriladores e, em alguns casos, de um transplante de coração. Muitos pacientes, no entanto, morrem subitamente, a maioria sem sequer saber que estava infectada. Segundo a OMS, o número de casos diagnosticados vem crescendo nos últimos anos devido à migração populacional e à inclusão de novas áreas de transmissão até então não endêmicas como a Austrália, Estados Unidos, Canadá, Japão e Europa. Esta globalização da doença de Chagas está relacionada a outros tipos de transmissão não vetorial, tais como a transfusão de sangue, a transmissão congênita e o transplante de órgãos.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) já testou mais de 60.000 pacientes para a doença de Chagas e tratou mais de 3.000 pacientes com a doença desde 1999. MSF abriu seu primeiro projeto de Chagas em 1999 em Honduras, e desde então, desenvolveu diversos outros programas de Chagas na Nicarágua e Guatemala. Atualmente MSF faz o diagnóstico e trata crianças e adultos na Bolívia e na Colombia e está iniciando um novo projeto no Paraguai.

Sobre a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi)
A Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) é uma parceria para desenvolvimento de produtos sem fins lucrativos que trabalha para pesquisar e desenvolver novos e melhores tratamentos para doenças negligenciadas como a malária, leishmaniose, doença do sono, e doença de Chagas. Com o objetivo de atender as necessidades dos pacientes dessas doenças, DNDi foi criada em 2003 pela Fundação Oswaldo Cruz do Brasil (Fiocruz), Conselho Indiano de Pesquisa Médica, Instituto Queniano de Pesquisa Médica, Ministério da Saúde da Malásia, Instituto Pasteur e Médicos Sem Fronteiras (MSF). O Programa de doenças tropicais da OMS (OMS/TDR) atua como um observador permanente. Trabalhando em parceria com a indústria e a academia, DNDi tem o maior portfólio de P&D para as doenças kinetoplastides. Desde 2007, DNDi já disponibilizou três produtos: duas combinações em dose fixa para a malária (ASMQ e ASAQ) e uma combinação para a fase avançada da doença do sono, o NECT (nifurtimox-eflornithine). O primeiro tratamento para crianças com a doença de Chagas, o benznidazol pediátrico, será disponibilizado em breve como bem público pela DNDi e pelo Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (LAFEPE), no Brasil. Além disso, em 2009, a DNDi assinou um acordo de colaboração e de licença com a Eisai Co. Ltd., para o desenvolvimento clínico de um composto promissor, o E1224, para o tratamento da doença de Chagas.

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