Coalizão de Chagas

[Barcelona, Espanha – 18 de março de 2014]

Estudo clínico Apesar da disponibilidade da medicação, 99% da população que sofre da Doença de Chagas não tem acesso ao tratamento

Estima-se em de 10 milhões o número de pessoas infectadas

Especialistas de diferentes regiões do mundo alertaram para o problema em reunião realizada em Barcelona em março, organizada pela Coalizão Global contra a Doença de Chagas. Estudiosos da doença debateram estratégias para aumentar o número de diagnósticos e melhorar o acesso ao tratamento.

Passada uma crise de produção, o principal medicamento para Doença de Chagas, o benznidazol, está novamente disponível desde 2012. Contudo, 99% das pessoas infectadas em todo o mundo ainda não tem acesso ao tratamento. Essa cifra deu início a um intenso debate, ocorrido em Barcelona, em um encontro organizado pela Coalizão Global contra a Doença de Chagas. Trata-se de uma aliança internacional que trabalha para auxiliar governos a atender as necessidades dos pacientes de forma abrangente, alinhados com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e em diálogo permanente com outras organizações. Segundo estimativas da OMS, 10 milhões de pessoas estariam infectadas pela doença.
“É imprescindível que o tratamento seja colocado no centro da agenda. Como já foi demonstrado, o medicamento que temos funciona, de modo que, agora, precisamos alcançar e tratar mais pacientes”, disse Pedro Alonso, diretor do ISGlobal durante a abertura do encontro que reuniu autoridades de saúde de países endêmicos, estudiosos pesquisadores e representantes da indústria farmacêutica.
Os especialistas ainda alertam que é preciso estar atento, visto que muitas pessoas podem estar doentes sem saber. Neste sentido, os representantes da Coalisão Global contra a Doença de Chagas enfatizaram a necessidade de contar com programas de diagnóstico e tratamento a preços acessíveis para populações em risco e se comprometeram em contribuir com as autoridades de saúde dos países endêmicos no desenvolvimento de políticas públicas.
“Não há dúvida de que o objetivo da Coalizão é contribuir, compartilhar e agregar conhecimento para chegar a um consenso e validá-lo. Consciente do tipo de desafio que enfrentamos, nosso dever é dar um passo adiante e convidar todos a participar. A coalizão está aberta à participação de cientistas, da indústria farmacêutica e de todos os setores da comunidade a que pertencemos e que são afetados pelo problema”, disse Silvia Gold, presidente da Fundação Mundo Sano ao final da jornada.
“Conectar nossas organizações na Coalizão Global contra a Doença de Chagas promove nossas diferentes experiências e talentos e, com o tempo, propicia sinergias em áreas fundamentais de políticas e proteção. Até o momento, a comunidade mundial que luta contra a Doença de Chagas teve uma forte promoção internacional, especialmente nas áreas de pesquisa e desenvolvimento. Reunir nossas organizações sem fins lucrativos é um primeiro passo muito importante”, ponderou Peter Hotez, presidente do Instituto de Vacinas Sabin.
A importância do tratamento
O benznidazol é o primeiro medicamento recomendado para tratar a Doença de Chagas e sua ação terapêutica é permanentemente analisada por especialistas. Estima-se que na fase aguda da doença, a eficácia do tratamento seja superior a 80% e que nos casos congênitos tratados durante o primeiro ano de vida supera 90%, sendo que em crianças e adolescentes o tratamento tripanocida tem uma elevada taxa de sucesso. Além disso, a cada dia é maior o consenso sobre o tratamento de pacientes crônicos. “Foram feitos progressos em áreas como controle de vetores e habitações, mas o desafio mais importante continua sendo o acesso do paciente ao tratamento, ainda não obtido em larga escala”, disse Bernard Pécoul, diretor executivo da DNDi, que coordenou o painel Acesso e tratamento: Inovação e perspectivas terapêuticas. “Nossos pacientes precisam de um urgente aumento da escala do diagnóstico e do tratamento com as ferramentas existentes; em particular com o benznidazol e com novos medicamentos mais eficazes e mais seguros.”

Por sua vez, Faustino Torrico, pesquisador do Coletivo de Estudos Aplicados e Desenvolvimento Social (CEADES), referiu-se à situação na Bolívia: “no país, nascem com a Doença de Chagas congênita entre 1.500 e 2.000 crianças por ano, sendo que nem 10% delas são tratadas”, disse o especialista, que enfatizou a necessidade de implantação de um plano os paciente, com diagnóstico e tratamento, sem deixar de lado o trabalho realizado no controle da transmissão vetorial. “A lacuna entre os pacientes diagnosticados e os que são tratados na Bolívia é muito grande: para 3.000 pacientes tratados por ano, estima-se que haja um milhão de infectados”, acredita Torrico.

Aspectos gerais da Doença de Chagas

A Doença de Chagas é causada pelo Trypanosoma cruzi, um parasita transmitido por um inseto (o barbeiro) encontrado em áreas rurais e nos arredores urbanos da América Latina. Inicialmente, aparecem alguns sintomas como febre, fadiga e glândulas inchadas, o que é conhecido como a fase aguda da doença. Posteriormente, não são observados sintomas e, após um número variável de anos, se manifesta a fase crônica da doença, geralmente com problemas cardíacos, digestivos ou neurológicos, que podem ser graves e até fatais. Outros modos de transmissão incluem transfusões de sangue e transplantes de órgãos infectados. Mulheres infectadas podem transmitir o parasita para seus bebês.
A Doença de Chagas em números
  • No Paraguai, estima-se que haja mais de 150.000 infectados, enquanto na Bolívia seriam mais de 1 milhão.
  • Na Europa, estima-se que vivam entre 68.000 e 122.000 pessoas afetadas pela Doença de Chagas. A Espanha é o país mais afetado e pioneiro no controle da transmissão. Estima-se que aproximadamente 50.000 pessoas vivam com a doença, das quais 60% são mulheres em idade fértil. Desde que o benznidazol voltou a estar disponível na Espanha, em novembro de 2012, mais de 2.000 pessoas foram tratadas.
  • Estima-se que a Doença de Chagas cause 6.000 mortes por ano no Brasil.
  • Na Argentina, estima-se que pelo menos meio milhão de pessoas estejam infectadas, sendo que os afligidos por cardiopatias originadas da doença são mais de 300.000.
  • 30% dos infectados desenvolvem lesões cardíacas e até 10% podem apresentar graves danos do sistema digestivo ou nervoso.
  • A Doença de Chagas seria a causa de pelo menos 12.000 óbitos e 30.000 novos casos a cada ano.
  • A maioria dos casos ocorre na América Latina, onde a doença é endêmica em 21 países.
  • 65 milhões de pessoas estão em risco de contrair a doença.
  • De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, a Doença de Chagas afeta de 8 a 10 milhões de pessoas no mundo.
Sobre a Coalizão Global contra a Doença de Chagas
A Coalizão Global contra a Doença de Chagas é uma iniciativa internacional criada em 2013, com o propósito de unir forças e combater a Doença de Chagas com base em um conceito holístico, visando atender as necessidades dos pacientes. Fazem parte a fundação Mundo Sano, o Instituto de la Salud Global (ISGlobal), o Sabin Vaccine Institute, a iniciativa Medicamentos para Enfermidades Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês para Drugs for Neglected Diseases Initiative), o Coletivo de Estudos Aplicados y Desenvolvimento Social (CEADES) com apoio dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), a Federação Internacional de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas Chagas (FINDECHAGAS) e o Instituto Carlos Slim de la Salud.

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