KINSHASA / NAIRÓBI / GENEBRA – 10 de fevereiro de 2022 – O ensaio clínico ANTICOV começou a recrutar participantes para testar uma nova e promissora combinação de medicamentos, fluoxetina e budesonida, para tratamento da COVID-19 leve a moderada.
O ensaio ANTICOV, realizado atualmente em 13 países africanos e que logo se expandirá para mais países do Sul da Ásia e da América Latina, visa identificar tratamentos para COVID-19 que sejam otimizados para o uso em contextos de recursos escassos e possam prevenir a progressão para um quadro mais grave, além de potencialmente limitar a transmissão.
“Precisamos urgentemente identificar um tratamento oral para COVID-19 que seja seguro, acessível e adaptado às necessidades específicas de países de renda baixa e média (PRBM)”, explica Nathalie Strub-Wourgaft, diretora de Resposta à COVID-19 da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), organização de pesquisa e desenvolvimento (P&D) sem fins lucrativos que coordena o consórcio ANTICOV.
“Os antivirais para COVID-19 aprovados recentemente para uso nos Estados Unidos, na União Europeia, Índia e outros países parecem promissores na prevenção da progressão da doença quando administrados a pacientes de alto risco nos primeiros cinco dias dos sintomas. Há preocupações crescentes em relação à disponibilidade imediata desses antivirais para todas as pessoas que deles precisarem, principalmente em regiões onde o acesso a vacinas continua sendo inaceitavelmente baixo. Em países de baixa renda, menos de 6% das pessoas estão totalmente imunizadas contra COVID-19”, diz a Dra. Strub-Wourgaft.
A nova combinação de medicamentos testada pelo ANTICOV inclui fluoxetina, mais conhecida pelo nome comercial Prozac. O potencial da fluoxetina contra a COVID se baseia em um mecanismo de ação totalmente separado de suas propriedades antidepressivas: ela inibe a capacidade de replicação do vírus impedindo sua penetração nas células, podendo também ter atividade imunossupressora. Ela é segura e está amplamente disponível. Em agosto, o estudo TOGETHER demonstrou que outra molécula pertencente à mesma classe de compostos é efetiva contra COVID-19, reduzindo mortes e internações em até 30%.
A fluoxetina será testada em combinação com budesonida inalada. A budesonida é um corticosteroide inalatório seguro e econômico conhecido pelas potentes propriedades anti-inflamatórias nos pulmões. Estudos mostraram que, se administrada na fase inicial da infecção, budesonida melhora o tempo de recuperação de pacientes ambulatoriais com COVID e pode reduzir internações e mortes.
“Para pacientes ambulatoriais que precisem de tratamento em até uma semana do início dos sintomas, o que corresponde à situação real, as combinações de tratamentos orais que somem dois mecanismos de ação – um antiviral e um anti-inflamatório – são as opções mais promissoras”, completa a Dra. Strub-Wourgaft. “Um tratamento desse tipo será adaptado particularmente a áreas de recursos limitados, onde muitas vezes o acesso a ferramentas de teste econômicas é difícil.”
A combinação pode ser efetiva para o primeiro estágio da infecção, de replicação viral, podendo também diminuir a probabilidade do segundo estágio, o inflamatório, que tem início alguns dias depois.
Fluoxetina e budesonida estão disponíveis comercialmente, e o acesso e a administração serão econômicos e fáceis se a eficácia contra COVID-19 for comprovada. Este é o quinto braço de testes do ensaio do ANTICOV desde seu lançamento, em novembro de 2020.
O ANTICOV é um ensaio de “plataforma adaptativa”, criado de maneira inovadora e flexível para permitir adicionar ou remover tratamentos à medida que surgem novas evidências. A seleção de medicamentos para o ANTICOV é informada por avaliações conduzidas pela parceria terapêutica pelo Acesso ao Acelerador de Ferramentas para COVID-19 (Access to COVID-19 Tools Accelerator, ACT-A), um grupo de trabalho de especialistas coordenado pela Unitaid e a Wellcome.
O principal financiamento do consórcio ANTICOV vem do Ministério Federal de Educação e Pesquisa (BMBF) da Alemanha, através do KfW, e da agência de saúde global Unitaid, como parte do ACT-A. Apoio adicional é recebido da Parceria de Ensaios Clínicos dos Países Europeus e em Desenvolvimento (EDCTP), sob o segundo programa apoiado pela União Europeia com financiamento adicional do governo sueco, a Fundação Internacional Starr e a Fundação Stavros Niarchos.
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Lista de parceiros do ANTICOV
O consórcio ANTICOV mobiliza uma ampla rede de parceiros com experiência reconhecida em pesquisa clínica. Os 26 membros do consórcio ANTICOV são:
ALIMA (The Alliance for International Medical Action), França / Senegal
ANRS, Maladies infectieuses émergentes, França
Bahir Dar University, Etiópia
Barcelona Institute for Global Health (ISGlobal), Espanha
Bernhard-Nocht-Institut für Tropenmedizin (BNITM), Alemanha
Centre Muraz, Institut National de Santé Publique, Burkina Faso
Centre for Research in Therapeutic Sciences, Quênia
Centro de Investigação em Saúde de Manhiça, Moçambique
Centro de Investigação e Treino em Saúde da Polana Caniço (CISPOC), Instituto Nacional de Saúde, Moçambique
Centre Pasteur du Cameroun (CPC), Camarões
Centre Pour Le Développement Des Vaccins, Ministry of Health, Mali
Centre Suisse de Recherches Scientifiques (CSRS), Costa do Marfim
Drugs for Neglected Diseases initiative (DNDi), Suíça (parceiro coordenador)
Epicentre, França
FIND, the global alliance for diagnostics, Suíça
Ifakara Health Institute, Tanzânia
Infectious Diseases Data Observatory (IDDO), Reino Unido
Institute of Endemic Diseases, University of Khartoum, Sudão
Institute of Tropical Medicine, Antwerp (ITM), Bélgica
Institut National de Recherche Biomédicale (INRB), República Democrática do Congo
The Kenya Medical Research Institute (KEMRI), Quênia
Kumasi Centre for Collaborative Research in Tropical Medicine (KCCR), Gana
Medicines for Malaria Venture (MMV), Suíça
Swiss Tropical and Public Health Institute (Swiss TPH), Suíça
Université de Bordeaux – Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (INSERM), França
University of Gondar, Etiópia
Sobre a DNDi
A DNDi é uma organização sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento que trabalha para disponibilizar novos tratamentos para pacientes com doenças negligenciadas, em especial aqueles que sofrem de doença de Chagas, doença do sono (tripanossomíase humana africana), leishmaniose, filarioses, micetoma, HIV pediátrico e hepatite C. A DNDi também está coordenando o ensaio clínico do ANTICOV para encontrar tratamentos para casos leves e moderados de COVID-19 na África. Desde sua criação, em 2003, a DNDi disponibilizou nove tratamentos novos, incluindo novas combinações de medicamentos para a leishmaniose visceral, dois antimaláricos de dose fixa e a primeira entidade química que desenvolveu, o fexinidazol, aprovada em 2018 para o tratamento dos dois estágios da doença do sono. www.dndi.org