Protocolo representa um avanço significativo na atenção às pessoas com doença de Chagas no país, mas limite de idade para o rastreamento preocupa especialistas.
Está aberta, até o dia 23 de agosto, a consulta pública do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para a Doença de Chagas no Brasil. Destinados aos gestores do Sistema Único de Saúde, os PCDTs são documentos que estabelecem critérios para o diagnóstico e tratamento de doenças, além de mecanismos de controle clínico e de acompanhamento. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a doença de Chagas afeta cerca de 1.1 milhão de brasileiros, mas este número pode ser ainda maior, pois segundo dados do II Consenso Brasileiro em doença de Chagas e do Ministério da Saúde, o número de pessoas afetadas pela doença no país varia de 1,9 a 4,6 milhões. “Até agora não existia um protocolo que orientasse claramente os profissionais de saúde no manejo da doença. O PCDT de Chagas é um passo importantíssimo para tirar a doença do esquecimento e melhorar o acesso a cuidados de saúde adequados para quem precisa. Mas pode ser ainda melhor”, diz o Dr. Sérgio Sosa Estani, Diretor do Programa Clínico para Chagas da DNDi. (Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas, na sigla em inglês).
Entre os elementos que contribuem para este avanço, está o compromisso de promover o cuidado às pessoas já no primeiro nível de atenção e de oferecer cuidados integrais. Tratar não só a doença para eliminar o parasita, com o tratamento etiológico, mas cuidar também das complicações associadas, alinhando a prática no Brasil ao que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Com base em evidências científicas, o protocolo também amplia a recomendação para que as pessoas até os 50 anos de idade recebam o tratamento específico para a doença – em contraste com a recomendação de 2005, de tratar crianças de até 12 anos.
Apesar de representar um claro avanço, a DNDi considera que o PCDT perde uma oportunidade importante de ampliar ainda mais os direitos de atenção quando limita o rastreamento a pessoas com idade inferior a 50 anos. Ainda que esteja alinhada ao limite de idade para o tratamento específico, impor o mesmo limite de idade para o rastreamento exclui uma importante população dos cuidados de saúde capazes de minimizar o impacto da doença. “A DNDi recomenda remover o limite de idade para o rastreamento, tornando o PCDT uma ferramenta ainda mais apropriada para responder às reais necessidades de atenção da população”, explica o Dr. Sérgio Sosa Estani, da DNDi.
Outro ponto do PCDT que pode melhorar é a recomendação de não oferecer tratamento etiológico para pacientes que apresentem cardiopatia recente e que tenham contraído a infecção fora do Brasil. Com base em estudos com diferentes populações que apresentaram benefícios do tratamento, a DNDi recomenda a exclusão deste ponto e a não discriminação de pessoas com infecção contraída fora do país.
“A DNDi, que trabalha com doença de Chagas na América Latina desde 2005, já submeteu as suas recomendações. Agora convocamos a todos os interessados a fazer o mesmo. Dessa forma podemos juntos influenciar o destino da doença no país”, diz Dr. Sérgio Sosa Estani. Para participar, basta acessar o site http://conitec.gov.br/consultas-publicas e submeter sua opinião e sugestões. Qualquer instituição ou cidadão interessado pode participar.
Confira a contribuição da DNDi ao Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para a doença de Chagas na íntegra: Nota Técnica
Sobre a doença de Chagas:
A doença de Chagas é causada pelo parasita Trypanosoma cruzi e transmitida principalmente pela picada do inseto barbeiro, quando as fezes do vetor infectado com o parasita são absorvidas. Outras formas de transmissão frequentes são por meio de transfusão de sangue não controlada de doadores infectados, de mãe infectada para filho durante a gestação ou o parto, ou pela ingestão de alimentos contaminados com o parasita.
A doença começa com uma fase inicial aguda em que pode haver febre prolongada, ou edema facial, entre outros sintomas. Na maioria das vezes, no entanto, não há sintoma algum. A fase crônica é tardia, dura por toda a vida. Até um terço dos pacientes sofre danos ao coração (cardiopatias), com risco de vida, e até 10% das pessoas apresentam comprometimento do sistema digestivo.