15 de Novembro de 2018
No dia 15 de novembro de 2018, os membros da Plataforma Chagas[1] e da Coalizão Global de Chagas[2], presentes na VIII Reunião da Plataforma Chagas em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, assinaram esta carta dirigida a governos, organizações e doadores pedindo que intensifiquem seus esforços para controlar e eliminar a doença de Chagas como um problema de saúde pública. Nos últimos 10 anos, houve importantes avanços na luta contra a doença. Contudo, restam ainda muitos desafios pela frente. O ano de 2019 marca os 110 anos desde o descobrimento da doença e representa uma oportunidade de chamar a atenção para as pessoas afetadas pela doença de Chagas e implementar as ações necessárias.
Estima-se que a doença de Chagas, ou Tripanossomíase Americana, afeta mais de 6 milhões de pessoas em todo o mundo[3], com aproximadamente 30.000 novos casos a cada ano, principalmente nas Américas[4]. No entanto, menos de 10% das pessoas com a doença de Chagas nas Américas foram diagnosticadas e a imensa maioria não recebe o tratamento que precisa. A transmissão de mãe para filho é atualmente uma das principais formas de propagação, com aproximadamente 9.000[5] bebês nascidos a cada ano com a infecção. Sem tratamento, a doença de Chagas pode causar danos irreversíveis e potencialmente mortais para o coração e outros órgãos vitais.
Atualmente, só existem dois medicamentos disponíveis para tratar a doença de Chagas – nifurtimox e benznidazol – ambos descobertos há meio século, o que salienta a persistente falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Estes podem e devem ser melhorados.
Controlar e eliminar Chagas e outras doenças tropicais negligenciadas (DTNs) como problemas de saúde pública é fundamental para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS), especialmente o ODS 3 que trata de saúde e bem-estar, e inclui a Cobertura Universal de Saúde[6]. No âmbito do ODS 3, é feito também um chamado aos países para que apoiem e contribuam com a pesquisa e desenvolvimento de novas vacinas e medicamentos para as doenças transmissíveis e não transmissíveis que afetam principalmente os países em desenvolvimento.
Durante a Conferência Iberoamericana dos(as) Ministros(as) da Saúde em Cartagena de 2016, os(as) Ministros(as) se comprometeram a promover a implementação e sustentabilidade de modelos de intervenção para a prevenção e o controle de doenças transmitidas por vetores, incluindo a doença de Chagas [7]. Recentemente, a comunidade de saúde global também renovou seus compromissos para combater as DTNs. Na Declaração do Mar del Plata em 2018, os(as) Ministros(as) da Saúde dos países membros do G20 apoiaram o fortalecimento dos sistemas de saúde para melhorar o acesso a atenção em saúde e alcançar a Cobertura Universal de Saúde, reconhecendo que são necessários sistemas de saúde mais fortes para combater as doenças infecciosas, incluindo as doenças tropicais negligenciadas[8].
Os membros da Plataforma de Pesquisa Clínica de Chagas e a Coalizão Global de Chagas compartilham o compromisso de fomentar a inovação, pesquisa e desenvolvimento, focando nas necessidades dos pacientes e proporcionando evidências para orientar as políticas de saúde pública e as práticas clínicas. Para encontrar respostas científicas que permitam obter novas e melhores ferramentas que atendam às necessidades das pessoas que vivem com Chagas, a comunidade científica de Chagas se compromete a aumentar sua colaboração e sinergia, incluindo a sociedade civil e organizando parcerias para avançar nas pesquisas sempre que for possível.
Reconhecendo os esforços bem-sucedidos das iniciativas sub-regionais de prevenção e controle da doença de Chagas, os membros da Plataforma Chagas e a Coalizão Global de Chagas, abaixo-signatários, pedem aos governos, organizações internacionais e doadores que reafirmem seu compromisso e intensifiquem seus esforços para eliminar a doença de Chagas como problema de saúde pública, segundo acordado pelos Estados-membros da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no “Plano de ação para a eliminação de doenças infecciosas negligenciadas e ações pós-eliminação 2016-2022”. Para tanto, é necessário tomar as seguintes medidas urgentes:
A Carta de Santa Cruz foi aprovada por 95 instituições presentes na reunião plenária da Plataforma Chagas, representando 12 países. Ela conta com o apoio institucional das seguintes organizações:
[1] A Plataforma de Pesquisa Clínica de Chagas foi criada em 2009 e hoje conta com mais de 400 membros de 150 instituições e 24 países de todo o mundo. É uma rede de pessoas e organizações altamente especializadas, que compartilham conhecimentos de alto nível técnico e experiências na busca por novas ferramentas no combate à doença.
[2] A Coalizão Global de Chagas é a maior aliança colaborativa de organizações privadas e em colaboração com entidades públicas, com o objetivo de promover o acesso ao diagnóstico e tratamento. Foi fundada em 2012 por organizações como a DNDi, Fundação Mundo Sano, ISGlobal, Fundação CEADES, Baylor College, entre outras.
[3] Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
[4] A doença é endêmica em 21 países da América Latina, mas também presente na América do Norte, Europa, Japão e Austrália.
[5] Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), 2015
[7] Leia a Declaração da XV Conferência Ibero-Americana de Ministras e Ministros de Saúde
Até o momento, desenvolvemos nove tratamentos para doenças negligenciadas, salvando milhões de vidas. Temos o objetivo de disponibilizar 25 novos tratamentos em nossos primeiros 25 anos. Você pode nos ajudar!
Organização internacional, sem fins lucrativos, que desenvolve tratamentos seguros, eficazes e acessíveis para os pacientes mais negligenciados.
DNDi GlobalExceto para imagens, filmes e marcas registradas que estão sujeitos aos Termos de Uso da DNDi, o conteúdo deste site está licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-Share Alike 3.0 Switzerland License.