Nova parceria de pesquisa global busca tratamento para a dengue

Países endêmicos vão liderar esforços de combate à doença, que é sensível ao clima e infecta 390 milhões de pessoas por ano

BANGKOK / GENEBRA — 26 JAN 2022

A Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) está promovendo alianças com países onde a dengue é endêmica em um projeto para desenvolver, dentro de cinco anos, um tratamento seguro, acessível e eficaz para a doença. A primeira instituição de pesquisa a fazer parte do projeto é o prestigioso Hospital da Faculdade de Medicina Siriraj, da Universidade Mahidol, na Tailândia.

A dengue, doença tropical negligenciada e sensível ao clima, é uma das dez maiores ameaças à saúde global. Estima-se que 390 milhões de infecções ocorrem todos os anos em mais de 100 países, mas não há nenhum tratamento específico para a enfermidade.

Não podemos mais perder tempo sem abordar a carência de tratamentos seguros e eficazes para a dengue que também sejam acessíveis a todos os pacientes”, afirma Dr. Bernard Pécoul, diretor executivo da DNDi, em um evento em Bangkok. “Para termos sucesso, é fundamental que este processo seja liderado pelos países onde a dengue é endêmica e estamos entusiasmados de trabalhar com nossa primeira parceira, a Tailândia.”

“É crucial encontrarmos soluções para o tratamento da dengue, que está se espalhando rapidamente devido em parte às mudanças climáticas, que já se previa que intensificaria o impacto da doença nas áreas endêmicas e a levaria para áreas que antes não eram afetadas.”

Os sintomas da dengue incluem febre, náusea, vômitos e dores musculares, nas articulações e ossos tão intensas que a doença também é chamada de “febre quebra-ossos”. Se a infecção evolui para a forma grave da doença, as pessoas afetadas podem sofrer choque, hemorragias internas e falência dos órgãos, correndo risco de morte. A dengue exerce forte pressão nos sistemas de saúde pública dos países endêmicos.

Estima-se que mais de 70% da carga da doença recaia sobre a Ásia, mas sua incidência está crescendo rapidamente em outras partes do mundo e especialmente nas Américas, onde se registraram mais de 3,1 milhões de infecções em 2019. Também houve um aumento significativo do número de casos em partes da África. A Tailândia registra milhares de casos de dengue todos os anos e grandes surtos a cada 2 ou 3 anos, como o ocorrido em 2019, quando houve mais de 131 mil casos no país.

“Mesmo em plena pandemia de COVID-19, não podemos perder de vista o combate a outras doenças que afetam milhões de pessoas no mundo”, afirma o Dr. Prasit Watanapa, reitor do Hospital da Faculdade de Medicina Siriraj, da Universidade Mahidol, na Tailândia.

Apesar das extensas pesquisas realizadas, do desenvolvimento de tratamentos para a dengue e do progresso atingido no desenvolvimento de vacinas, ainda não alçamos resultados satisfatórios. A colaboração com a DNDi é um primeiro passo importantíssimo que estamos dando no trabalho com organizações internacionais para promover e desenvolver o potencial da Tailândia como um dos centros de pesquisa e desenvolvimento mais confiáveis do sudeste da Ásia, assim como para controlar a dengue de forma permanente no país.

O número de casos de dengue em todo o mundo aumentou em 85% de 1990 a 2019. O aumento da temperatura atribuído à mudança climática provavelmente acelerará a amplificação viral da doença, além de aumentar as taxas de sobrevivência, reprodução e atividade dos mosquitos transmissores. A previsão é que o número de pessoas com risco de contrair dengue chegue a 60% da população mundial até 2080, devido à mudança climática, à rápida urbanização e ao crescimento populacional.

Portanto, o objetivo desta nova parceria é o desenvolvimento de uma nova solução terapêutica que ajude no tratamento da dengue, previna a progressão para a fase grave e diminua a pressão sobre sistemas de saúde que já estão sobrecarregados.

A DNDi e seus parceiros trabalharão juntos para avançar a pesquisa pré-clínica de possíveis tratamentos para a dengue, testar a eficácia de diversos candidatos a medicamentos reutilizados e implementar ensaios clínicos com aqueles que se mostrarem mais promissores. Ao mesmo tempo, coordenarão os esforços para preencher lacunas de conhecimento e acelerar pesquisas clínicas e aprovações regulatórias, além de abordar as carências de diagnóstico ainda existentes. A parceria também atuará no levantamento de recursos e sua mobilização, além de compartilhar abertamente o conhecimento obtido.

A DNDi está prestes a assinar um contrato semelhante com o Instituto Translacional de Ciência e Tecnologia da Saúde (THSTI), da Índia, e está em negociações avançadas com o Instituto de Pesquisa Médica (IMR) do Ministério da Saúde da Malásia e a Fundação Oswaldo Cruz, do Brasil, para o desenvolvimento terapêutico. Ela também incluirá na parceria países africanos como a República Democrática do Congo e Gana, para realizar estudos epidemiológicos que ajudem a entender a incidência da dengue nessas áreas.

A resposta científica à COVID-19 promoveu avanços científicos notáveis na saúde global em pouco tempo, mas também deixou claro que há desequilíbrios de poder na área da saúde. A parceria para a dengue, que contará com a experiência da DNDi em cooperação sul-sul para a hepatite C e a COVID-19, pretende demonstrar que é possível reinventar a coordenação, a colaboração e o financiamento para P&D em saúde global, contribuindo ainda com uma abordagem mais equilibrada, descentralizada e democrática de produção de conhecimento e inovação como bens públicos globais.

Desde sua criação in 2003, a DNDi já desenvolveu e registrou nove tratamentos novos para doenças negligenciadas, como a doença do sono, as formas cutânea e visceral da leishmaniose, a doença de Chagas, e o HIV infantil. Será a primeira vez que seus pesquisadores dedicarão esforços à dengue.

Sobre a DNDi

A DNDi é uma organização sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento que trabalha para disponibilizar novos tratamentos para pacientes com doenças negligenciadas, em especial aqueles que sofrem de doença de Chagas, doença do sono (tripanossomíase humana africana), leishmaniose, filarioses, micetoma, HIV pediátrico e hepatite C. A DNDi também está coordenando o ensaio clínico do ANTICOV para encontrar tratamentos para casos leves e moderados de COVID-19 na África. Desde sua criação, em 2003, a DNDi disponibilizou nove tratamentos novos, incluindo novas combinações de medicamentos para a leishmaniose visceral, dois antimaláricos de dose fixa e a primeira entidade química que desenvolveu, o fexinidazol, aprovada em 2018 para o tratamento dos dois estágios da doença do sono. www.dndi.org

O programa da dengue se baseará particularmente na experiência da DNDi no combate à hepatite C. Graças à colaboração bem-sucedida com o Ministério da Saúde da Malásia e outros parceiros, os pacientes no país hoje têm acesso a tratamentos com os custos mais baixos do sudeste da Ásia. Por outro lado, a extrema desigualdade da resposta global à COVID-19 levou a DNDi a lançar uma série de iniciativas, incluindo uma das maiores redes de ensaios clínicos para o tratamento inicial da COVID-19, que é coordenada por países de renda média e baixa.

Contato de imprensa

Frédéric Ojardias (Genebra)
fojardias@dndi.org
+41 79 431 62 16

Crédito fotográfico: Luke Duggleby

 

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Até o momento, desenvolvemos nove tratamentos para doenças negligenciadas, salvando milhões de vidas. Temos o objetivo de disponibilizar 25 novos tratamentos em nossos primeiros 25 anos. Você pode nos ajudar!

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