A ferramenta digital criada pela Coalizão Chagas, DNDi e Federação Mundial do Coração reúne dados de sete países sobre a doença
www.observatoriochagas.com
O acesso a dados reais e atualizados sobre pessoas diagnosticadas, tratadas e monitoradas por doenças negligenciadas nos sistemas de saúde é um grande desafio. No caso da doença de Chagas, a sua natureza silenciosa, a baixa prioridade nos sistemas de saúde e a falta de conscientização e de sistemas de notificação de dados complicam as tentativas de melhorar esse cenário. Diante disso, a Coalizão Chagas, junto com a DNDi, a Federação Mundial do Coração e parceiros, solicitou aos programas e subprogramas de Chagas de sete países (Argentina, Brasil, Colômbia, Guatemala, Paraguai, Reino Unido – Londres e Suíça – Genebra) que fornecessem os dados disponíveis dos últimos três anos sobre o atendimento às pessoas afetadas pela doença.
Foi assim que nasceu o Observatório Chagas, uma ferramenta online (disponível em português, espanhol e inglês) que fornece um retrato do progresso da doença de Chagas de forma didática e em linguagem acessível com base nos dados fornecidos pelos países e complementa outros esforços para coletar e monitorar informações sobre o problema. Trata-se de uma visão paralela e realista que complementa os dados estimados globais e regionais utilizados por especialistas. Além de dados quantitativos, como o número de pessoas testadas, diagnosticadas e tratadas, classificadas por idade, sexo e estado civil, a iniciativa também fornece informações qualitativas, como a disponibilidade e o registro de medicamentos, o uso de testes de diagnóstico rápido e a existência de associações de pacientes.
O Paraguai é um dos países que forneceu dados de progresso da doença. O governo conseguiu controlar a transmissão vetorial em todo o seu território e agora concentra esforços no controle da transmissão vertical. “Essa plataforma nos ajuda a ver o quanto progredimos e onde ainda precisamos progredir. Talvez, somando os pequenos e grandes avanços dos países, possamos pintar o mapa globalmente e responder à pergunta de quantos somos e onde estamos e, assim, sermos capazes de melhorar as áreas em que ainda não avançamos.”, comenta a Dra. Vidalia Ramos, chefe do programa nacional de controle da doença de Chagas.
Da mesma forma, países como a Colômbia aumentaram significativamente a porcentagem da população testada e diagnosticada em regiões que, por anos, foram inacessíveis aos sistemas de saúde devido a conflitos. Esse avanço foi possível graças à implementação do Roteiro de Atenção Integral à Saúde (RIAS). “Simplificar o diagnóstico, garantir o fornecimento de medicamentos, implementar a triagem para gestantes de risco e demonstrar que a atenção integral é viável na atenção primária em áreas de alta prevalência possibilitou reduzir em 40% as desigualdades e as lacunas terapêuticas da doença de Chagas na Colômbia”, explica Mauricio Vera, chefe do Subprograma Nacional de Doença de Chagas do Ministério da Saúde da Colômbia.
A iniciativa também fornece diferentes indicadores sobre a implementação de políticas e estratégias de controle da doença de Chagas. Por exemplo, permite monitorar se são realizados exames cardiológicos em nível de atenção primária para pessoas com diagnóstico positivo, ou se o ETMI+ (para a eliminação da transmissão vertical de HIV, sífilis, hepatite B e Chagas) é implementado, conforme atestado por países com incidência muito alta, como Argentina e Brasil.
Outro dado relevante é a apresentação detalhada da distribuição de tratamentos ao longo de dois anos nestes países: cerca de 5 milhões de doses dos dois tripanocidas disponíveis, Benznidazol e Nifurtimox, o que equivale a aproximadamente 21 mil tratamentos completos distribuídos globalmente. Esses e outros dados revelam a dimensão do desafio ainda existente para alcançar as metas de eliminação da doença de Chagas. Estima-se que cerca de 7 milhões de pessoas convivam com a doença, enquanto mais de 75 milhões permanecem em risco.
No Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado em 14 de abril há alguns anos, as associações de pessoas que vivem com a doença solicitaram algo muito concreto: “Ajude-nos a saber quantos somos e onde estamos”. O Observatório, com a colaboração dos Ministérios da Saúde e de organizações da sociedade civil, embora ainda modesto, representa um avanço que esperamos expandir e aprimorar nos próximos anos, contribuindo para uma melhor compreensão e enfrentamento da doença.
Convidamos você a consultar o Observatório em www.observatoriochagas.com. ______________________________________________________________________
Coalizão Global de Chagas: A Coalizão Global de Chagas é uma aliança colaborativa para a troca de experiências, conhecimento e capacidade de ação para aumentar a visibilidade desse problema e o compromisso de aliviar o sofrimento humano que ele causa, com o objetivo de eliminá-lo como um problema de saúde pública.
DNDi: A iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) é uma organização internacional de pesquisa sem fins lucrativos que desenvolve tratamentos e projetos de acesso para as populações mais vulneráveis, especialmente aquelas afetadas por doenças socialmente determinadas.
Federação Mundial do Coração: Liderando e organizando a saúde cardiovascular global, a Federação Mundial do Coração defende a saúde do coração e trabalha para reduzir o ônus global das doenças cardíacas, incluindo a doença de Chagas. A Federação é composta por mais de 200 fundações cardíacas, sociedades científicas e organizações de pacientes em mais de 100 países.