Neste ano, o Dia das Doenças Tropicais Negligenciadas, celebrado em 30 de janeiro, vem acompanhado de uma excelente notícia: a Guiné anunciou que recebeu a validação da OMS confirmando a eliminação da doença do sono como um problema de saúde pública. De acordo com a definição da OMS, isso significa que o país possui agora menos de um caso por 10 mil pessoas.
Essa é a primeira doença que a Guiné eliminou e representa um marco importante na campanha global para eliminar a doença do sono, a Tripanossomíase Humana Africana. O país tem sido o mais afetado pela doença na África Ocidental, registrando o maior número de casos na região da cepa Gambiense da doença.
“Conseguimos atingir esse estágio de eliminação graças às novas ferramentas que temos: testes rápidos, ferramentas de controle de vetores, que têm sido extremamente importantes, e a implementação de novas estratégias, como a triagem feita de porta a porta”, disse o professor Mamadou Camara, coordenador nacional de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) na Guiné, que dedicou a maior parte de sua carreira à luta contra a doença do sono. “Também temos novas moléculas graças aos ensaios clínicos da DNDi. Isso levou a uma nova compreensão da doença por parte da comunidade. Agora eles sabem que podem ir aos centros de saúde e receber tratamento.”
A iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) é uma organização de pesquisa médica sem fins lucrativos que descobre, desenvolve e disponibiliza tratamentos para populações negligenciadas. Graças ao apoio de seus doadores, e em parceria com o programa nacional, a OMS e a Sanofi, a DNDi desenvolveu tratamentos novos, seguros e eficazes para a doença do sono, para substituir os tratamentos tóxicos que eram a base do tratamento há 20 anos.
Presente na cerimônia de comemoração deste marco em Conakry, Guiné, o Dr. Luis Pizarro, diretor executivo da DNDi, disse: “Esta é uma notícia fantástica e um marco importante em nossos esforços coletivos para eliminar esta doença terrível e negligenciada. A Guiné agora tem apenas um punhado de casos – uma conquista impressionante e inspiradora, especialmente considerando que o país tem sido o mais afetado pela doença do sono na África Ocidental, e enfrentou um ressurgimento maciço durante o surto de Ebola entre 2014 e 2016”.
“Agora estamos desenvolvendo um novo tratamento chamado acoziborole, um medicamento promissor que será um elemento essencial para manter essa eliminação. Porque precisamos permanecer vigilantes; a doença pode voltar se baixarmos a guarda. Precisamos das ferramentas de saúde certas para evitar o ressurgimento, e isso inclui medicamentos seguros e eficazes que sejam simples de administrar e de distribuir.”
O acoziborole é um medicamento de dose única que, uma vez aprovado, promete tratar os pacientes assim que houver suspeita da doença. Isso facilitará a manutenção da eliminação da doença, pois qualquer novo caso poderá ser tratado imediatamente antes de seu ressurgimento.
Com um número cada vez menor de casos, o risco também é de perda de conhecimento técnico e de desvio da atenção para outras doenças. Para manter a eliminação, é preciso que o governo e parceiros internacionais continuem dando devida atenção. “Eliminar a doença do sono como um problema de saúde pública não é uma vitória total. O rastreamento dos últimos casos é complexo e difícil, e essa é a fase em que estamos. É aqui que o trabalho começa”, adverte Camara.